by Equipe ERPNOW - 15/12/2022
Entrevistamos a terapeuta financeira Luana Guerra Verdi. Ela passou dicas e orientações realistas para pessoas que já empreendem e aquelas que estão se organizando para sair do emprego formal e abrir a própria empresa.
Esse post é o primeiro de uma série de posts onde vamos apresentar dicas e orientações de como abrir a sua própria empresa ou empreender paralelamente ao seu emprego tradicional.
Luana é Terapeuta Financeira, co-autora do livro: "A Roda do Dinheiro - Como fazer a sua roda girar". Ela orienta as pessoas a cuidar, proteger e multiplicar o dinheiro para sair do modo sobrevivência e desfrutar a vida com saúde financeira.
Equipe ERPNOW: Luana, qual o perfil dos seus clientes e por que você focou nesse nicho?
Luana Verdi: Eu atendo mulheres empreendedoras, principalmente as donas de pequenos negócios e prestadoras de serviço. Elas sabem ganhar dinheiro, estão sempre em atividade, mas não conseguem guardar. Por isso quero ajudá-las.
EE: Qual a maior dificuldade entre as suas clientes ao lidar com as finanças da empresa?
LV: A maior dificuldade que observo com minhas clientes é na hora de separar os rendimentos de pessoa física com a sua pessoa jurídica. Isso é muito comum em todos os empreendedores no começo, as pessoas misturam as contas. Esse é o problema número um.
EE: Por que não separar as contas de pessoa física e pessoa jurídica é um problema?
LV: Ao misturar as contas a pessoa não se sente "A Empreendedora", a dona daquele negócio. A primeira coisa que você precisa fazer quando você quer empreender é separar as contas físicas do seu CNPJ. Esta é uma boa prática mesmo se você ainda não possui uma MEI. A empreendedora pode ter uma conta pessoal em um banco, e uma outra conta pessoal separada para receber de seus clientes. Essa segunda conta é "a conta da sua empresa". É importante reforçar isso "a conta da minha empresa". Você coloca na sua mente essa mudança de comportamento.
Mesmo se você ainda usar contas de pessoa física, antes de abrir seu MEI, ou sua pequena empresa, é importante separar o canal pelo qual você recebe dos clientes e gastar pessoalmente seu "pró-labore", o salário do empreendedor.
EE: Qual o problema prático da conta ser a mesma? Qual os escorregões que derivam dessa mistura?
LV: Os empreendedores acabam não vendo o quanto estão faturando, o reconhecimento do seu trabalho. A cliente deposita o pagamento por algum serviço na mesma conta que a empreendedora vai no mercado. Ela gasta o dinheiro e não anota. Consequentemente, não tem o controle sobre o que sai e o que entra. Sem o sentimento de que seu trabalho vale a pena, você não vê o resultado do seu trabalho.
EE: Tem alguma conta que você recomenda?
LV: Neste início, recomendo uma conta digital para que a empreendedora não pague taxas. Conforme sua empresa for crescendo ela vai eventualmente buscar por cestas de serviço que atendam suas novas necessidades.
EE: Se é importante separar o que a empresa fatura do que o empresário gasta pessoalmente, como fazer a conta do "salário" do empresário?
LV: O salário da pessoa empreendedora é chamado de pró-labore. Ele precisa ser calculado com, basicamente, o que sobra das despesas fixas e variáveis da empresa. Não existe uma conta fixa, vai dá profissional. No entanto, é importante saber as despesas fixas dela, pessoais e da empresa, e os custos que ela tem para fazer a empresa rodar. Para fazer essa conta deve-se anotar e observar tudo que é gasto para manter a empresa, o quanto sobra para reinvestir na empresa e então retirar o pró-labore. E depositar em outra conta.
EE: No âmbito pessoal, qual o principal erro que você observa na vida financeira das empreendedoras?
LV: A organização, o uso do cartão de crédito e saber o quanto se ganha e gasta. O cartão de crédito pode ser amigo ou te deixar numa furada se não for utilizado com eficiência. Outra coisa, poucas pessoas fazem orçamento do que pretendem e precisam comprar. Enquanto isso, as empresas planejam muito mais. Para anos na frente, inclusive podemos nos inspirar nesse movimento para organizar nossas finanças domésticas também.
EE: O que é imprescindível para se organizar para abrir uma empresa?
LV: Ambição, projetar o formato da sua empresa para que ela dê a você aquilo que você espera. Qual a função da sua empresa, no mundo e na sua vida? Faz parte da ambição saber também o quanto se quer faturar, sua meta de rendimentos com todo o esforço empregado e valores investidos. Mesmo que ainda esteja no começo, por exemplo, hoje ela fatura 1 mil, não tem problema ela querer faturar dez mil, mas desde que ela saiba que isso vai ser um processo. Precisamos ter um marco, uma ambição, uma meta para não parar no meio do caminho, ficar procrastinando, parar de captar clientes. Quando você não tem uma meta, se acostuma com sua situação e não acha nem merecedora de ter mais.
EE: Muda muita coisa se for MEI (microempreendedor individual), PME (pequena e média empresa), etc…?
LV: Muda pois, diferentes modalidades de abertura de empresa têm diferentes custos e obrigações legais. Quando for escolher uma modalidade de empresa para abrir, é preciso atentar-se para as particularidades jurídicas de cada uma, por exemplo, se for MEI e você tiver algum problema fiscal bens em seu nome entram como garantia para a empresa quitar essa dívida. Mas isso em último caso, existem outras etapas jurídicas até a situação chegar nesse ponto. O importante é conhecer seus direitos e deveres.
EE: Como os pequenos empresários e empresárias podem "educar" seus clientes quanto a orçamentos, pagamentos, prestação dos serviços? Como comunicar claramente o que fazem e como cobram?
LV: Eu acredito muito na máxima "o combinado não sai caro". Por isso defendo combinar tudo antes de fechar negócio. Quais serviços prestamos, qual a política de cancelamentos e taxas envolvidas. É preciso colocar regras no seu negócio como uma grande empresa faz, afinal, como consumidoras estamos sujeitas às regras, certo?
Por exemplo, pessoas que trabalham com horários e ganham por serviço precisam estabelecer regras quanto aos cancelamentos. Não tem como uma empreendedora nesta modalidade simplesmente aceitar que todo mundo cancele os compromissos em cima da hora. Ela deixa de ganhar.
Importante também é ter um contrato, ainda que muito simples com esses combinados. Mesmo uma mensagem padronizada - simples, educada e direta - onde você manda para o cliente depois que ele fecha com você. Nesta mensagem é preciso confirmar o horário marcado, qual a política de cancelamento e pedir a confirmação de leitura da mensagem.
Uma dica para não parecer abusiva é pesquisar no Procon quais as regras e taxas aplicáveis do ponto de vista do direito do consumidor.
EE: Muitas pessoas começam a empreender conciliando com outras atividades, como maternidade, paternidade e claro, um emprego com carteira assinada. Como conciliar - ou não - uma carreira CLT com uma empresa aberta em outro ramo?
LV: A dica para conciliar é pagar o preço de acordar mais cedo e se dedicar pelo menos 3h por semana para seu negócio. Sabemos que tem pessoas que gostam de trabalhar CLT e não querem parar. Então é uma questão de manejar o tempo para fazer as duas coisas com qualidade.
Por outro lado, há quem queira se preparar financeiramente para sair da CLT e somente empreender. Nesse caso, é importante ter ciência dos custos de vida e da empresa. Mas um bom começo é esperar até que o rendimento da sua empresa - funcionando em paralelo ao seu emprego - atinja o mesmo valor bruto do seu salário CLT em um espaço de tempo, por exemplo "em seis meses eu faturei a mesma coisa na empresa do que o valor bruto do meu salário". Nesse momento é mais seguro sair do meu emprego e multiplicar seus rendimentos como empreendedora em tempo integral.
Porém, é preciso cuidar para não "chutar o balde" no seu trabalho CLT. Deixando de lado completamente você pode perder oportunidades de fazer renda extra lá mesmo, como uma promoção e bons relacionamentos.
EE: Como uma microempreendedora pode ter mais segurança financeira além de se organizar?
LV: Seja no começo da empresa, ou com ela rodando, eu recomendo que a pessoa empresária tenha múltiplas fontes de renda. Não dependa de uma só pois não é saudável financeiramente. Se você perde uma fonte de renda, fica perdida para ter outra e consome de suas reservas para honrar as contas do mês.
Sendo sua primeira fonte de renda seu emprego CLT, a segunda fonte de renda pode usar as habilidades que você possui e não utiliza em seu trabalho formal. É possível ganhar dinheiro com seu talento. A meta pode ser aumento do lucro, da renda da família, conquistar algum bem.
EE: Luana, para encerrar: que dica você gostaria de ter escutado quando abriu a sua própria empresa?
LV: Pratique, busque autoconhecimento e procure a sua verdade. Hoje vejo que não devemos ter medo de ir para prática. Precisamos parar de comprar tantos cursos e esconder atrás do nosso conhecimento. Empreendedora: vá para a prática, você vai consertar a bicicleta em movimento.
Como analista corporal, eu também sei que cada pessoa tem um jeito de lidar com os desafios. Tem pessoas com perfil menos planejador e mais criativo, impulsivo. Elas fazem mesmo. Por outro lado, existem pessoas mais planejadoras, como o meu, se eu não vejo a luz do final do túnel, eu não me movo. Por isso, vá conhecer-se como pessoa antes de ter seu próprio negócio.
Fazer terapia é ótimo para conhecer-se e quebrar algumas crenças que ouvimos desde criança mas que não necessariamente nos representam. Na hora de empreender, temos que encarar esta atividade como trabalho - que é o que ela é - e ter ambição.
No nicho de autoconhecimento temos muita vontade de ajudar as pessoas com o que aprendemos e agora oferecemos, mas temos que nos ajudar primeiro. Alguns temas, como finanças, são consultorias e por isso serviços não recorrentes.
O caminho é a empreendedora compreender a dor da cliente e como ela vai sarar essa dor. Por exemplo, no meu caso, eu foco no faturamento. Eu apresento para minhas clientes que com mais planejamento financeiro elas vão aumentar seu faturamento. Ela vai melhorar o negócio dela.
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